Do ponto de vista da terminologia aplicada aos desastres é possível afirmar que as enchentes são inevitáveis, porém os alagamentos em decorrência do transbordamento de rios ou deficiências na drenagem urbana podem ser evitados sim. No entanto, devemos considerar que nossas cidades ainda não atingiram um ponto crítico que mereça obras de contenção similares as que já são realidade em alguns países, pois ainda há muita planície alagável a ser aterrada e muitas áreas de risco que podem ser ocupadas (trata-se de observação SARCÁSTICA, caso alguém possa não entender).
Quando se trata de alagamento de vias e residências por deficiência na drenagem a solução é relativamente mais simples, em alguns casos a limpeza e a manutenção de bueiros e tubulações já resolve uma boa parte do problema, a substituição de tubulações e galerias readequando os dimensionamentos resolve outra parte e pode-se ainda trabalhar com políticas públicas que evitem ocupações em áreas alagáveis e impeçam aterros. Muito embora pareça algo simples, evitar ocupações irregulares e impedir aterros pode ser uma tarefa muito complexa, pelo simples fato de haver o envolvimento de pessoas com interesses diversos, se todos estivessem focados no mesmo objetivo tudo seria muito mais simples e rápido, mas cada um pensa apenas em seu próprio quintal e isso dificulta ações que possam ser realmente resolutivas.
Há que se considerar ainda o contundente fato que praticamente todas as cidades iniciaram seu desenvolvimento às margens de rios devido a navegação e também por necessidade de uso da água para as diversas atividades da comunidade e isso gerou, ao longo do tempo, problemas que quase irreversíveis.
Entretanto temos, mundo afora, alguns exemplos de ações que estão dando muito certo e que vale a pena conhecer, ainda que possa estar fora da realidade financeira dos nossos municípios não podem ser descartados, pois um maior número de ações efetivas e integradas estendidas a níveis regionais envolvendo a comunidade e o meio empresarial pode tornar possível a realização de obras aparentemente inatingíveis.
Muro móvel contra enchentes na Áustria
Em algumas partes da Áustria a comunidade não tem mais tanto medo das enchentes e dos alagamentos, pois foram desenvolvidos muros desmontáveis que protegem as regiões das águas das enchentes, represando-as e mantendo as ruas e casas livres dos seus efeitos. Veja abaixo o vídeo mostrando o muro em funcionamento.

Muro de proteção contra enchentes em Sunbury, PA. Imagem: www.corpsnedmanuals.us
Em algumas regiões há também muros fixos que foram construídos já há bastante tempo, como é o caso do muro de Sunbury, Pensilvânia, EUA. Construído em 1951, tem protegido a população da cidade das cheias do rio Susquehanna. Em 1972, com a passagem do furacão Agnes a cidade teve os impactos consideravelmente reduzidos e isso explica a inscrição no muro “We love you Wall” (Nós amamos você muro).
Nos Estados Unidos existe também o caso do estádio no Modern Woodmen Park na cidade de Davenport, Iowa, que construiu 244 metros de muro desmontável similar ao utilizado na Áustria, mediante o uso do muro o estádio ficou intacto e protegido durante a ocorrência do evento.

Muro de proteção contra enchentes no Modern Woodmen Park em Davenport/Iowa Foto: AlansHeaven @ flickr
Projeto G-Cans em Tokyo, Japão – Um túnel de inundação de 2,6 bilhões de dólares
Os túneis de inundação são soluções usadas em grandes centros urbanos onde o espaço é limitado. Em Tokyo já existe o projeto G-Can que consiste em uma estrutura gigantesca de túneis e tanques de armazenamento. O projeto foi iniciado em 1993 e concluído em 2006, com um custo final de 2,6 bilhões de dólares.
Os sistemas consiste em 6,4 quilômetros de túneis com até 50m que ligam cinco silos de 65m (211 pés) de altura e 32m (104 pés) de largura. A peça central do sistema é um reservatório gigante que é a uma câmara de inundação ou tanque de compensação 125.4m de altura, 177m de comprimento e 78m de largura, com o telhado apoiado por 59 pilares.
Outros países que já possuem a mesma linha de projetos são o México (Cidade do México), Malásia (Kuala Lumpur), Argentina (Buenos Aires) e Tailândia (Bangkok). No Brasil há projeto proposto pelo Comitê Brasileiro de Túneis, mas não encontrei nada documentado sobre o andamento do projeto.
Talvez estes projetos estejam realmente um tanto além das condições financeiras disponíveis em nossos municípios, mas por hora uma limpeza decente nos bueiros e tubulações da drenagem urbana já estaria de muito bom tamanho. As fotos abaixo são de bueiros da área central de Jaraguá do Sul/SC. Leia também o artigo http://www.areafria.com.br/sua-cidade-alaga-quando-chove-a-culpa-tambem-e-sua/